quinta-feira, 7 de julho de 2011

Paris

Não estava nada à espera daquele situação, mas o sabor agridoce do inesperado e a excitação do completo proibido eram como um vórtice, aguilhoando-lhe o desejo.

Como de costume, vestira-se com um dos severos fatos do pai para assistir à restrita tertúlia literária no Café Parisiense, um antro político disfarçado de respeitável ponto de encontro da sociedade de novos burgueses comerciantes, onde se discutia de tudo um pouco, entre copos da famosa Fada Verde, o absinto, que tinha o condão de embriagar, ao mesmo tempo que clareava os sentidos. A primeira vez que a bebera sentira o coração estalar no peito, de tal o cavalgar veloz e silencioso encetado no momento; no entanto, sabia-se incógnita na reunião literária, disfarçada de homem (sexo a que era permitida a frequência de tais lugares), pelo que guardou silêncio das sensações experimentadas e aparentou uma soberba indiferença à bebida. O estratagema resultou, e desde essa altura começaram as suas excursões nocturnas às tertúlias do Café, onde se embriagava de poesia, fumo e fadas verdes, que lhe dançavam frente aos olhos castanhos e grandes.

Nessa noite, o convidado de honra era um dos seus autores favoritos, que lhe vivia nos sonhos, pelo que tinha mesmo de o ver. Lia escondida no silêncio da noite os livros proibidos e banidos, surripiados da biblioteca do pai, devorando-os enquanto o corpo se excitava com as letras amaciadas pelas páginas.

Acabada a leitura, os homens começaram a dispersar, e ela aproveitara para se aproximar do autor daquelas missivas, falando-lhe. O olhar dele, hipnótico, pareceu atravessar a camisa de linho e deter-se justamente nos seios ainda tímidos, como que tocando-lhes. Seria possível que adivinhasse quem se escondia por detrás daquela máscara?

Seguira-o para uma pequena sala no interior do café, desnorteada e sem se saber senhora da sua vontade.

E fora lá que ele a derrubara sobre o sofá de tecido carcomido junto à parede, com um beijo incendiário que lhe obliterara a consciência e espicaçara o desejo a níveis insuportáveis. Ela queria-o, ó se queria. Sentira desde logo o desejo dele, urgente e másculo, mal escondido por debaixo das finas calças.

Puxara-o para si, abrindo-se, e ele iniciara os gestos de amor desapertando os botões, um a um, da camisa, ao mesmo tempo que os seus dedos lhe afastavam o cinto e abriam o fecho das calças. Desapertou-lhe depois o corpete, hábito do qual ela ainda não havia conseguido libertar-se, por muitos anos de uso que já lhe dera.

Inexperiente nas artes do sexo, ela foi aluna aplicada, aprendendo de cor o que o seu corpo já adivinhava e o desejo lhe sussurrava.

Lançou-lhe a boca ao pescoço e os dedos imitaram o gesto dele, insinuando-se por dentro das calças, encontrando um sexo duro e pronto para a devorar. Tocou-lhe, provocando um suspiro, que ele calou devorando-lhe os lábios.

Nús, olharam-se por um momento breve, após o que ele mergulhou no corpo dela, descobrindo-a. Deteve-se na curva perfeita dos seios, no perfume da barriga lisa, no interior das coxas macias, molhando-lhe o sexo (já húmido) com a língua. Ela, que havia lido histórias consideradas obscenas à sucapa dos pais, não se recordava daquelas artes que a faziam contorcer-se de prazer, mas depressa se deixou navegar pelo limbo da vontade.

Quando a viu fechar os olhos, ele penetrou-a, desvirginando-a com cuidado.

Encheu-se nela, encheu-se dela, guiando-a num mundo de prazer recém aprendido no sofá das traseiras de um qualquer café de Paris.

Juntos, cavalgaram-se até que o momento do orgasmo os uniu para além do espaço e do corpo dormente de gosto, o prazer líquido escorrendo da pele suada, os olhos num brilho demente.

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