quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dança da despedida

A tua mão estendeu-se para a minha num subtil gesto de despedida.
Toquei-a, sentindo-me quente.
Nesse preciso instante, os teus olhos mergulharam-me na alma.
E a boca estendeu-se para a minha, naquele que pretendia ser o primeiro e último beijo.

Um encontro leve e molhado abriu caminho para o tempo em que não há voltas atrás.
E soltámo-nos nas asas do desejo.

Colaste o teu corpo ao meu como se te pertencesse desde sempre. Com a avidez das crianças em novas brincadeiras, descobrindo um mundo novo.
As tuas mãos apossando-se de todos os pedaços de mim, a tua língua explorando-me o gosto a canela da boca vermelha.
De olhos bem abertos plantados nos meus, como uma ordem suplicante para que a entrega fosse total.

Em breve o teu sofá era terreno fértil para os nossos amores proibidos.
Rapidamente o meu vestido branco se tingiu de gotas do nosso suor, e os teus calções de cor cinza se colavam nas tuas ancas, mostrando-me o teu sexo duro e hasteado, pronto para se banquetear de mim.

As minhas mãos exigiram o desapertar do teu cinto, o libertar daquele empecilho de roupa que me impedia de te tocar. Assim que o conseguiram, senti vibrar por entre os dedos o teu desejo acumulado, que se rendia a mim.

Suspiraste, aguentando firme as minhas carícias. Querias gozar e fazer-me gozar contigo.

Tiraste-me as alças do vestido e, sem cerimónia, lambeste-me o peito, os mamilos erectos recebendo a tua saliva. Com os teus dedos ágeis tiraste-me as cuecas de renda branca, e começaste a encher-me de humidade. De vontade crua.

Com um impulso, libertaste-te de mim, olhaste-me assim, abandonada e seminua, no teu sofá, sorriste e baixaste-te sobre o meu ventre, onde iniciaste uma dança de língua na minha vagina.

Gritei, agarrando-te na cabeça.
A tua boca chupava-me o sexo, lambia-me sem pudor, mostrava-me que era impossível fugir do tanto que te queria.

Brincaste até ver que eu não aguentava mais.
Nesse momento ergueste-te e entraste em mim por um caminho alagado de suor e desejo.
Seguraste-me as nádegas e empurraste-te para dentro de mim, do centro do meu corpo.

Ambos gemíamos baixinho, envolvidos e entregues ao impulso energético que nos unira.

Uma e outra vez, abri-me e contraí-me para ti, apertando-te entre as pernas que te recebiam.
Uma e outra vez, penetraste-me fundo, possuindo-me, fazendo-me tua. Tua.

Rapidamente sobreveio o momento orgásmico, fundindo-se os nossos corpos, as nossas vozes, com o nome um do outro gritando na garganta rouca, amando-se as nossas almas.

Aí, veio a paz. E reconhecemo-nos, por fim. 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

De amor e de sexo

Olhos cerrados, mãos desalinhadas ao longo do corpo, ela volteava ao som da música, cada nota penetrando na pele, cada pauta fazendo amor com o corpo farto de mulher.
As suas curvas generosas espalhavam-se pela pista de dança enquanto ela, recolhida num qualquer mundo interior onde só a música era rainha, se submetia ao ritmo sensual do DJ.

Do seu canto, tentando compenetrar-se na conversa que circulava pela mesa, ele olhava-a em breves segundos vadios, aqueles em que não conseguia controlar-se... e percebia a gulodice que ela despertava nos lábios dos outros, que não se coibiam de a mirar descaradamente, pedindo-a para si.
Uma raiva surda e absurda carcomia-o por dentro, uma irritação vagarosa que ia subindo pelo estômago acima até chegar ao centro do peito.

Viu quando um dos seus amigos, hipnotizado pela dança da fêmea, se acercou dela, quando lhe tocou no braço e a fez despertar do transe, quando a enlaçou pela cintura e começou a dançar com ela como se sempre o tivesse feito.
Ela sorria, inocentemente. Não se apercebia do efeito que produzia nos outros. Era imune às ondas de desejo que se desprendiam do corpo daquele a quem via como amigo. Estava simplesmente alegre, descontraída e feliz, e compartilhava-o de peito aberto com o Mundo.

Ele agitou-se mais no seu lugar. Era homem, macho, e era-lhe óbvio o que o amigo queria. Ela estava num momento de vulnerabilidade e carência (isso não era segredo para ninguém, o ex-namorado deixara-a destroçada), tinha um carinho sincero por aquele que agora dançava com ela e facilmente se deixaria envolver no clima que ele se esforçava por criar.
E ele, do seu lugar no sofá de couro, agonizava torturando-se com imagens de beijos e carícias que parecia adivinhar já entre os dois.

Pois, não aguentava mais ver aquilo... tinha de apanhar ar, ir-se embora, sabia lá. Aquilo era um martírio. Não podia tê-la, pois claro, nem devia sequer desejá-la (bolas, homem! esqueces-te que tens namorada?), mas não conseguia apagar dos olhos a imagem do sorriso com que o cumprimentara a primeira vez que o conhecera e não conseguia inventar mais motivos que calassem aquela fome do corpo.

Levantou-se com tanta rapidez que o seu copo caiu na mesa, partindo-se com estrondo. Os amigos barafustaram, as vozes atraindo o olhar dela, que se cruzou com o dele, fera ferida em terra selvagem. Algo lhe penetrou o coração desprevenido, um reconhecimento daquele olhar.

Ele saiu rapidamente.

Deixando o amigo sozinho na pista, ela seguiu-o sobressaltada, já não sendo dona dos seus passos. Não lhe suportava a tristeza, nunca tinha conseguido suportar o mais leve queixume daquele homem, a sua dor era como se lhe pertencesse, desde que se haviam cruzado nesta vida. Sufocava a vontade de o abraçar de todas as vezes em que ele, de coração rasgado, vinha desabafar com ela.

Lá fora a noite estava densa, quente e escura. O vulto que tão bem conhecia não se deixava ver em lado nenhum, talvez se tivesse já encolhido em concha, ou esfumado no ventre da noite negra.

Enquanto os olhos dela se tentavam habituar ao breu, uma mão agarrou-lhe no braço e puxou-a para longe, sem cerimónias. Era ele, embora só se visse bem o olhar a chispar e os lábios crispados.

"Que fazes aqui? Não estavas a dançar tão bem lá dentro?"
"... Vi-te sair, vim atrás de ti..."
"Vai-te embora, vai-te divertir, deixa-me sozinho"
"O que tens? Que se passa?"
"Nada"
"... diz-me, por favor!"

Silêncio tenso, palpável, agarrando-se às palavras, aos gestos, à pele.
A dela, arfando debaixo do corpete justo, um convite mudo à língua que ali se queria perder.
A dele, tremendo de medo, ira e desejo, tentando conter o bater rápido do coração que se espalhava pelo corpo todo.

"Gostas dele?" (voz rouca, pedido de menino carente)
"Não."

E...
muito tempo depois........
um tímido..........

"Gosto de ti."
A coragem a crescer na voz.
"Gosto muito de ti. Gosto tanto. Quero-te tanto. Quero-te agora. Foge comigo. Dou-te o meu mundo."

Os sussurros, dentro do ouvido dele. Perdida por cem, perdida por mil, deitava o coração aos borbotões para fora.
"Toma-me. Ama-me, agora, já. Quero sentir-te em mim, agora. Abro o meu corpo para ti." (urgente, ardente, o calor na voz sibilada)

Carregando-a ao colo, levou-a para a areia com cheiro a mar por detrás da grande rocha de pedra que se erguia como um gigante rasgando a beira-mar.
Ébrio, possuído pela tormenta de meses e meses sufocando o desejo, arrancou-lhe o corpete, expondo os seios nús e perfeitos à luz ténue da Lua. Os seus lábios vorazes verteram a vontade no peito dela, enquanto os dedos afastavam a última barreira que os separava do túnel húmido que chamava por ele.

As mãos dela libertavam-lhe o sexo hasteado com orgulho, acariciavam-no, sugavam-lhe a vontade como se sempre o tivessem conhecido assim, nú e vulnerável. Pronto para a trespassar.

Os olhares cruzaram-se, no meio do fogo, da guerra.
As bocas uniram-se com raiva, sugando-se.
Os braços dele prenderam os dela na areia, o corpo dela arqueou-se, as pernas abriram-se num despudorado convite à penetração.
O sexo nú, a saia puxada para a cintura. Abandonada.

Sem pedir licença, ele comeu-a, o pénis duro apertado entre as paredes daquele fruto proibido que o endoidecia.
Primeiro dominado pela loucura da barragem contida, depois embalado no amor recém-descoberto naquele abraço doce e aberto com que ela o envolvia.

No vórtice demorado da entrega, esqueceram-se do mundo, esqueceram-se até de onde começava um e acabava outro. Os corpos suados uniram-se uma e outra vez na areia quente com cheiro a sexo.

Amanhecia quando a saciedade finalmente os acolheu, encontrando-os serenados num amplexo emocionado.

E o Sol disse-lhes olá de cara risonha.



quinta-feira, 7 de julho de 2011

O vestido

De repente dou-me conta que hoje trago o vestido que levei ao teu casamento.
E recordo-me da dança que partilhámos, tu já casado e eu já pensando no desperdício do que podíamos ter vivido e o meu corpo, sem dares conta, a fervilhar perto do teu, enquanto me conduzias devagar ao largo da sala.
De repente dou-me conta hoje, anos depois, tu ainda tão bem casado como na altura, hoje no dia em que estamos os dois no teu sofá e a minha boca te chupa o pénis endurecido, e me dizes bem alto e em voz rouca o quanto me queres, dou-me conta que esta vida é redonda demais para os passos da vontade.
E sorrio, e rio enquanto puxo o vestido lilás para as coxas e me encavalito fundo em ti, e me seguras pelas ancas com gosto e urgência, para a frente e para trás como tão bem sei que te agrada, e te sinto o estremecer final e o rio de sémen quente que agora partilhas comigo, dentro de mim, e me afundo mais enquanto me perco nesta luxúria doce que me une a ti…
Depois sugas-me os lábios como se me quisesses prender a ti num laço invisível que não se quebra pela distância nem por outros quaisquer corpos que se coloquem entre nós, como se me dissesses que há algo em mim que guarda o teu cheiro e sabor, e que há parte de ti que me recorda com amor todos os momentos…

Threesome

Falavas nisso há tanto tempo, nesse teu desejo embriagado, que te inflamava o olhar.

Sussurravas-me os detalhes ao ouvido enquanto me possuías, e nesses momentos apoderava-se de ti o fervor da vontade nua e crua, e penetravas-me com mais força. E eu gemia deliciada e totalmente possuída por ti.

Cresceu em mim, sem me aperceber, um desejo igual ao teu.

A ideia, que de início me parecia impossível de concretizar, tomou raízes, criei-lhe gosto, e surpreendi-me também a tecer cenários imaginados de fantasia, enquanto os meus dedos rebeldes procuravam o meu centro, uma e outra vez, satisfazendo-me. E mais uma vez gemia, e mais uma vez gritava.

Comecei a tentar adivinhar nos rostos que me rodeavam possíveis companheiros de uma noite de loucuras, mas abanava a cabeça num misto de vergonha e desespero por não poder concretizar aquela febre que já me consumia, como a ti.

Uma noite, uma saída de amigas, vi-me num bar que me era desconhecido e a dançar solta numa pista, ao ritmo quente escolhido pelo ouvido experiente do DJ.

Abri os olhos, e lá estava ela, a olhar-me. Galar-me, mais seria o termo. Tentei afastar o meu olhar mas ele caía sempre, irrequieto, para o canto onde estava a mulher de corpo mulato e generoso (belo, belíssimo!) e grandes olhos cinzentos que me comia assim, à distância. Sentia o desejo dela como um campo eléctrico em seu redor, que me fazia húmida e gelatinosa no vestido branco que me cobria. Tive até medo que fosse visível para as minhas amigas a forma como, de repente, me vi a dançar apenas para ela, provocantemente, sensualmente.

Pensei-me louca, levei as mãos à cara e decidi-me por uma rápida visita ao WC, onde me poderia compor.

Mal tinha atravessado a porta e estava a passar água pelo pescoço que ardia, sentia-a atrás de mim. Sem me tocar, disse-me "quero-te e sei que também me queres. mas se me negares, vou-me embora sem te tocar sequer".

Sem levantar os olhos, sussurrei-lhe em voz rouca que sim, que a queria, que não sabia o que de mim se havia apoderado, que eu não era homossexual e mais uma data de baboseiras em forma de desculpa que ela calou, sem apelo nem agravo, colando a boca à minha, e explorando-me com a língua, enquanto os dedos doces me procuravam as virilhas.

Com todo o discernimento que pude reunir, e já ébria de desejo por aquele corpo moreno, pedi-lhe para se guardar, porque a queria partilhar contigo. Concordou e dirigimo-nos apressadamente ao meu carro, que conduzi até casa, enquanto ela me tocava onde conseguia, durante o caminho.

Abri a porta de mão dada com a minha mulher-desejo, chamei por ti. Vieste, meio tonto de sono, tronco nu e boxers, e num olhar compreendeste tudo. Olhámos-te, rimos meio em surdina, como meninas travessas preparadas para uma diabrura. Vi como o teu corpo se começou a agitar para o sexo (conheço-te bem).

Juntos, de mãos dadas, subimos para o quarto, em penumbra. Ficaste a um canto, de "castigo", enquanto a minha amiga me tocava com as suas mãos experientes e sábias, adivinhando-me o querer.

Desceu no meu corpo, abrindo-me as pernas e afundando a língua no meu centro, enquanto me contorcia sem nada pensar. Querias isto, afinal quem goza mais, quem gosta mais sou eu, estou louca, quero tocar-lhe, peço-lhe, encaixamos uma em cima da outra em cada direcção, exploramos os sexos alheios, agora estou completamente entregue e perdida e sinto a tua respiração ritmada no canto.

És convidado a participar, ela lambe-te o sexo hasteado, enquanto te beijo na boca e tens uma mão na cabeça da "nossa" mulher e outra no meu peito de mamilos erectos. Gostas, vejo-te na fome com que me consomes os lábios e me apertas o seio. Gosto que gostes.
Ordenas-lhe que me coma de novo, eu deito-me na cama, à beirinha, de pernas bem abertas, adivinhando já o fogo que nos vai consumir. Ela, deliciada comigo e o meu gosto a fêmea "virgem" nestas coisas, enfia bem a língua no meu clítoris, rodeia-o com os lábios, enquanto me penetra com os dedos. Gemo, é demais.

Louco, tu penetra-la por detrás, apoiado nas suas ancas largas. O gozo que vês no meu olhar inebria-te, endoidece-te, e ela pede-te que não pares, e que vás fundo, e diz uma data de obscenidades que nos põem a ponto de explodir. Estamos os três a gozar ao máximo, bem se vê.

Com um último empurrão, vens-te nela, ao mesmo tempo que ela se contorce no orgasmo simultâneo. Vendo-vos, abandono-me à língua dela, e o meu corpo arqueia no momento do orgasmo que me toma conta.

Os três, juntos. Como um.

Threesome, at last.

Madrugada

O seio dela subia e descia, no torpor ritmado da respiração adormecida.

À meia luz do quarto, naquela madrugada fria de Janeiro, a pele morena parecia brilhar, iluminada pelo rasgo de lua espreitando timidamente pela cortina da janela do motel.
Lenta e gulosamente, ele olhou-a, relembrando a noite anterior.

Só de pensar crescia-lhe velozmente o desejo por entre as pernas, nascendo de novo a vontade de possuir aquele corpo, aquela fêmea que se lhe unia em desejo, aberta e húmida.

Tinha-a possuído, uma e outra vez, até ambos sentirem o suor como uma segunda pele e o cansaço lhes toldar o olhar.

E, no entanto, poucas horas passadas, mal acordado e olhando-a assim, com o basto cabelo negro lançado na almofada e o corpo maduro atirado na cama, percorria-o já a fome de mais uma vez a fazer sua.

Cuidadosamente, colocou os dedos, ao de leve, no estômago liso. Ela não se moveu, perdida talvez em sonhos aconchegantes.

Sem um som, ele moveu-se com cuidado, colocando-se por cima do corpo dela, mas sem lhe tocar... os dedos subiram ao seio que cantava à lua, iniciando o toque. Meio a dormir, ela sentiu-se tocada, reconhecendo imediatamente o calor, a geometria daquela pele.

Afastando-lhe docemente as pernas, ao mesmo tempo que intensificava a pressão dos dedos no peito, ele soube que ela havia acordado. O corpo dela, quente e ainda dormente, aconchegava-se às suas carícias, contorcendo-se ligeiramente, num imperceptível sinal do gozo antecipado.

Molhando os lábios, ele começou a desenhar traços de saliva na barriga dela. Os dedos desceram-lhe às virilhas, passando ao de leve. O corpo nervoso dela denunciou o desejo que se acumulava. Continuava de olhos cerrados, mas a tensão era já visivel na postura de convite que as pernas, abertas, faziam.

Desceu a língua, mais. Movimentos espirais humedeciam-lhe (como se fosse preciso, molhada como ela estava, pronta, de imediato, para o receber no seu colo!) o sexo, desciam os dedos, abriam-na mais...

Num repente, enfiou-lhe os dedos, sentindo o corpo dela arquear-se de imediato. O prazer que lhe sentia enrijeceu-lhe o sexo e acabou de o enlouquecer. Gostava de a sentir assim, nas suas mãos, massa de barro para ele moldar no seu desejo.

Com a língua, massajou-lhe o clitóris, e sentiu-a gemer. Ela agarrou-lhe na cabeça com força, encostando-o mais contra si, misto de pedido e ordem, excitando-o. Era agora ela quem se arqueava facilitando a penetração dos dedos e a língua que, cada vez mais depressa e com mais força, a enlouquecia.

Sentia-a estremecer, era altura.

Não conseguia mais esperar.

Separou-se dela perseguido por um meio queixume da sua boca, e imediatamente lhe abriu com força as pernas, penetrando-a sem aviso. Ela gritou, mas no seu grito ecoava o nome dele e todo o desejo que lhe consumia o corpo.

Finalmente, abriu os olhos, para lhe pedir, sem palavras, que a deixasse ser a mestra, e ele o aluno.

Sorrindo, ele deitou-se docemente na cama, puxando-a para cima de si, e sentindo-a enterrar-se na carne molhada do seu sexo.

Puxando-lhe as mãos para trás, ela fechou os olhos e iniciou a sua dança, que ele tão bem conhecia. Cada centímetro do seu corpo entregue ao acto de ter e dar prazer, cada pedaço de pele transpirando o desejo que lhe tinha.

Juntos, perdidos, uma vez mais, subiram a escalada febril até ao orgasmo, num grito surdo de mistura de sabores, sentidos e vontades, vagueando no limbo embriagante do prazer...
Acabada a dança, corpos exaustos, lado a lado, desenham o futuro com os dedos das mãos...

As luvas

Pedes-me que as calce, em voz de queixume.

Elas, as malditas, o teu objecto de desejo, pousam discretamente, como que alheias, na mesinha de bambú que mora na meia penumbra do canto.

Gosto de ver-te o desejo na boca, gosto de sentir-te o pedido no olhar.

Gosto que me gostes com elas calçadas, quando me sinto forte e te excito assim, na pose musculada de quem se defende, da mulher capaz e dura, de armadura negra colada ao corpo.

Por isso, faço-te a vontade, que já te vejo crescer na língua que me estendes.

Lentamente, calço-as, e as mãos assim trajadas transformam-me o corpo em felina, e simulo os gestos que tanto anseias por ver, porque te arrepia a pele de ébano e te transforma em labareda, que me incendeia o desejo. Simulo-me assim, a forte, a má.

E vejo como as tuas mãos te começam a percorrer o peito e os dedos te fogem para esse teu mastro de macho no cio e iniciam o jogo do prazer a que te dedicas, sem pudor, à minha frente, dizendo-me que sou eu quem te faz despertar esse teu génio maroto que te habita. E chamando-me para perto de ti, para que te olhe bem a masturbares-te. Por mim. Para mim.

Devagar, vou para perto. Empurro-te as mãos para longe do mastro erguido, bradando, não tanto para te provocar mas mais porque o meu âmago, que não sentes mas cuja humidade trespassa já as cuecas de renda negra, já me transtorna os sentidos despertos e tento dominar a custo a vontade de me empalar em ti negando-me o prazer do espectáculo.

Vejo, no teu esgar safado, que percebeste o meu gesto, e tentas sentir-me o desejo por debaixo da diminuta roupa. Não te vou deixar! Quero dominar, tenho-as calçadas, as luvas que tanto gostas. Por isso, sinto-me no poder. E a embriaguez leva-me a explorar-te a pele com a lingua destemida, centímetro por centímetro, vendo-te contorcer de ansiedade, desejo, impotência e uma tentativa frustada de me agarrar os mamilos, erectos. Nem penses, hoje és meu, neste momento faço-te sofrer debaixo dos meus beijos, da minha língua, da minha pele que se roça em ti e do meu peito que te busca o contacto desse teu falo, que pressiono e afago.

Gemes, rogas-me, todo tu és suor e paixão e queres-te enfiar em mim e possuir-me e abandonares-te à minha posse. Sim, hoje possuo-te. Podes penetrar-me, mas sou eu quem comanda esta dança.

Com um último beijo, solto-te os braços, que imediatamente encaminham as mãos para o soutien, desprendendo-o com a mestria dos anos em que o conheces, e em seguida me desprendem das cuecas molhadas com o cheiro do meu sexo carente. Carente de ti.

Subo-te, torturo-te um pouco mais, esfregando-te no suco, mostrando o quanto te desejo. Bem o sabes, mas gosto que o sintas assim, pele na pele. Para que saibas que agora e aqui o meu corpo e o teu se farão um só, disfrutando do prazer que acelera o sangue e explode nas sinapses do cérebro.

Enfio-me finalmente em ti, com um grito uníssono das nossas gargantas. Domino-te, peço-te que me sussurres ao ouvido que me queres assim, em ti montada, que me pertence este teu corpo e que queres que o faça desfazer em ondas de desejo. Que te cavalgue. Faço-o, devagar e depressa, devagar e depressa, ao meu ritmo, sabendo que é também assim que preferes, meu amor, que é assim mesmo que juntos vamos saboreando esta nossa dádiva, este receber.

Não me engano, uma vez mais.

Sinto-te o corpo teso por debaixo do meu e a tua voz sumida que me pede que me venha contigo, em ti, por ti, para ti, em simultâneo prazer, e abandono-me a uma última viagem, mais um vai-vém do corpo, mais um arranque, afundo-me toda em ti e.... gritamos abraçados, abafado o grito pelas bocas que se unem no instante final do orgasmo, sinto-te libertares-te em mim, estremece-me o corpo aos repelões, as ancas firmemente agarradas pelas tuas mãos, pressionadas contra ti, somos os dois, somos um, fazemo-nos um, assim...

Paris

Não estava nada à espera daquele situação, mas o sabor agridoce do inesperado e a excitação do completo proibido eram como um vórtice, aguilhoando-lhe o desejo.

Como de costume, vestira-se com um dos severos fatos do pai para assistir à restrita tertúlia literária no Café Parisiense, um antro político disfarçado de respeitável ponto de encontro da sociedade de novos burgueses comerciantes, onde se discutia de tudo um pouco, entre copos da famosa Fada Verde, o absinto, que tinha o condão de embriagar, ao mesmo tempo que clareava os sentidos. A primeira vez que a bebera sentira o coração estalar no peito, de tal o cavalgar veloz e silencioso encetado no momento; no entanto, sabia-se incógnita na reunião literária, disfarçada de homem (sexo a que era permitida a frequência de tais lugares), pelo que guardou silêncio das sensações experimentadas e aparentou uma soberba indiferença à bebida. O estratagema resultou, e desde essa altura começaram as suas excursões nocturnas às tertúlias do Café, onde se embriagava de poesia, fumo e fadas verdes, que lhe dançavam frente aos olhos castanhos e grandes.

Nessa noite, o convidado de honra era um dos seus autores favoritos, que lhe vivia nos sonhos, pelo que tinha mesmo de o ver. Lia escondida no silêncio da noite os livros proibidos e banidos, surripiados da biblioteca do pai, devorando-os enquanto o corpo se excitava com as letras amaciadas pelas páginas.

Acabada a leitura, os homens começaram a dispersar, e ela aproveitara para se aproximar do autor daquelas missivas, falando-lhe. O olhar dele, hipnótico, pareceu atravessar a camisa de linho e deter-se justamente nos seios ainda tímidos, como que tocando-lhes. Seria possível que adivinhasse quem se escondia por detrás daquela máscara?

Seguira-o para uma pequena sala no interior do café, desnorteada e sem se saber senhora da sua vontade.

E fora lá que ele a derrubara sobre o sofá de tecido carcomido junto à parede, com um beijo incendiário que lhe obliterara a consciência e espicaçara o desejo a níveis insuportáveis. Ela queria-o, ó se queria. Sentira desde logo o desejo dele, urgente e másculo, mal escondido por debaixo das finas calças.

Puxara-o para si, abrindo-se, e ele iniciara os gestos de amor desapertando os botões, um a um, da camisa, ao mesmo tempo que os seus dedos lhe afastavam o cinto e abriam o fecho das calças. Desapertou-lhe depois o corpete, hábito do qual ela ainda não havia conseguido libertar-se, por muitos anos de uso que já lhe dera.

Inexperiente nas artes do sexo, ela foi aluna aplicada, aprendendo de cor o que o seu corpo já adivinhava e o desejo lhe sussurrava.

Lançou-lhe a boca ao pescoço e os dedos imitaram o gesto dele, insinuando-se por dentro das calças, encontrando um sexo duro e pronto para a devorar. Tocou-lhe, provocando um suspiro, que ele calou devorando-lhe os lábios.

Nús, olharam-se por um momento breve, após o que ele mergulhou no corpo dela, descobrindo-a. Deteve-se na curva perfeita dos seios, no perfume da barriga lisa, no interior das coxas macias, molhando-lhe o sexo (já húmido) com a língua. Ela, que havia lido histórias consideradas obscenas à sucapa dos pais, não se recordava daquelas artes que a faziam contorcer-se de prazer, mas depressa se deixou navegar pelo limbo da vontade.

Quando a viu fechar os olhos, ele penetrou-a, desvirginando-a com cuidado.

Encheu-se nela, encheu-se dela, guiando-a num mundo de prazer recém aprendido no sofá das traseiras de um qualquer café de Paris.

Juntos, cavalgaram-se até que o momento do orgasmo os uniu para além do espaço e do corpo dormente de gosto, o prazer líquido escorrendo da pele suada, os olhos num brilho demente.