sexta-feira, 8 de julho de 2011

De amor e de sexo

Olhos cerrados, mãos desalinhadas ao longo do corpo, ela volteava ao som da música, cada nota penetrando na pele, cada pauta fazendo amor com o corpo farto de mulher.
As suas curvas generosas espalhavam-se pela pista de dança enquanto ela, recolhida num qualquer mundo interior onde só a música era rainha, se submetia ao ritmo sensual do DJ.

Do seu canto, tentando compenetrar-se na conversa que circulava pela mesa, ele olhava-a em breves segundos vadios, aqueles em que não conseguia controlar-se... e percebia a gulodice que ela despertava nos lábios dos outros, que não se coibiam de a mirar descaradamente, pedindo-a para si.
Uma raiva surda e absurda carcomia-o por dentro, uma irritação vagarosa que ia subindo pelo estômago acima até chegar ao centro do peito.

Viu quando um dos seus amigos, hipnotizado pela dança da fêmea, se acercou dela, quando lhe tocou no braço e a fez despertar do transe, quando a enlaçou pela cintura e começou a dançar com ela como se sempre o tivesse feito.
Ela sorria, inocentemente. Não se apercebia do efeito que produzia nos outros. Era imune às ondas de desejo que se desprendiam do corpo daquele a quem via como amigo. Estava simplesmente alegre, descontraída e feliz, e compartilhava-o de peito aberto com o Mundo.

Ele agitou-se mais no seu lugar. Era homem, macho, e era-lhe óbvio o que o amigo queria. Ela estava num momento de vulnerabilidade e carência (isso não era segredo para ninguém, o ex-namorado deixara-a destroçada), tinha um carinho sincero por aquele que agora dançava com ela e facilmente se deixaria envolver no clima que ele se esforçava por criar.
E ele, do seu lugar no sofá de couro, agonizava torturando-se com imagens de beijos e carícias que parecia adivinhar já entre os dois.

Pois, não aguentava mais ver aquilo... tinha de apanhar ar, ir-se embora, sabia lá. Aquilo era um martírio. Não podia tê-la, pois claro, nem devia sequer desejá-la (bolas, homem! esqueces-te que tens namorada?), mas não conseguia apagar dos olhos a imagem do sorriso com que o cumprimentara a primeira vez que o conhecera e não conseguia inventar mais motivos que calassem aquela fome do corpo.

Levantou-se com tanta rapidez que o seu copo caiu na mesa, partindo-se com estrondo. Os amigos barafustaram, as vozes atraindo o olhar dela, que se cruzou com o dele, fera ferida em terra selvagem. Algo lhe penetrou o coração desprevenido, um reconhecimento daquele olhar.

Ele saiu rapidamente.

Deixando o amigo sozinho na pista, ela seguiu-o sobressaltada, já não sendo dona dos seus passos. Não lhe suportava a tristeza, nunca tinha conseguido suportar o mais leve queixume daquele homem, a sua dor era como se lhe pertencesse, desde que se haviam cruzado nesta vida. Sufocava a vontade de o abraçar de todas as vezes em que ele, de coração rasgado, vinha desabafar com ela.

Lá fora a noite estava densa, quente e escura. O vulto que tão bem conhecia não se deixava ver em lado nenhum, talvez se tivesse já encolhido em concha, ou esfumado no ventre da noite negra.

Enquanto os olhos dela se tentavam habituar ao breu, uma mão agarrou-lhe no braço e puxou-a para longe, sem cerimónias. Era ele, embora só se visse bem o olhar a chispar e os lábios crispados.

"Que fazes aqui? Não estavas a dançar tão bem lá dentro?"
"... Vi-te sair, vim atrás de ti..."
"Vai-te embora, vai-te divertir, deixa-me sozinho"
"O que tens? Que se passa?"
"Nada"
"... diz-me, por favor!"

Silêncio tenso, palpável, agarrando-se às palavras, aos gestos, à pele.
A dela, arfando debaixo do corpete justo, um convite mudo à língua que ali se queria perder.
A dele, tremendo de medo, ira e desejo, tentando conter o bater rápido do coração que se espalhava pelo corpo todo.

"Gostas dele?" (voz rouca, pedido de menino carente)
"Não."

E...
muito tempo depois........
um tímido..........

"Gosto de ti."
A coragem a crescer na voz.
"Gosto muito de ti. Gosto tanto. Quero-te tanto. Quero-te agora. Foge comigo. Dou-te o meu mundo."

Os sussurros, dentro do ouvido dele. Perdida por cem, perdida por mil, deitava o coração aos borbotões para fora.
"Toma-me. Ama-me, agora, já. Quero sentir-te em mim, agora. Abro o meu corpo para ti." (urgente, ardente, o calor na voz sibilada)

Carregando-a ao colo, levou-a para a areia com cheiro a mar por detrás da grande rocha de pedra que se erguia como um gigante rasgando a beira-mar.
Ébrio, possuído pela tormenta de meses e meses sufocando o desejo, arrancou-lhe o corpete, expondo os seios nús e perfeitos à luz ténue da Lua. Os seus lábios vorazes verteram a vontade no peito dela, enquanto os dedos afastavam a última barreira que os separava do túnel húmido que chamava por ele.

As mãos dela libertavam-lhe o sexo hasteado com orgulho, acariciavam-no, sugavam-lhe a vontade como se sempre o tivessem conhecido assim, nú e vulnerável. Pronto para a trespassar.

Os olhares cruzaram-se, no meio do fogo, da guerra.
As bocas uniram-se com raiva, sugando-se.
Os braços dele prenderam os dela na areia, o corpo dela arqueou-se, as pernas abriram-se num despudorado convite à penetração.
O sexo nú, a saia puxada para a cintura. Abandonada.

Sem pedir licença, ele comeu-a, o pénis duro apertado entre as paredes daquele fruto proibido que o endoidecia.
Primeiro dominado pela loucura da barragem contida, depois embalado no amor recém-descoberto naquele abraço doce e aberto com que ela o envolvia.

No vórtice demorado da entrega, esqueceram-se do mundo, esqueceram-se até de onde começava um e acabava outro. Os corpos suados uniram-se uma e outra vez na areia quente com cheiro a sexo.

Amanhecia quando a saciedade finalmente os acolheu, encontrando-os serenados num amplexo emocionado.

E o Sol disse-lhes olá de cara risonha.



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