sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Desejo escondido

Os teus olhos pousam-me no decote do vestido, gulosamente.
(ou é imaginação minha?)
Inclinas-te da varanda para me dar os beijinhos da praxe, que reclamas entre risos, eu na pressa de me ir embora de ti, da tentação sem camisa que personificas, eu imaginando-me já contra uma qualquer parede enquanto me aspiras o perfume da pele e as minhas unhas finalmente encontram o caminho desse teu peito de miúdo-homem.
Quero afastar-me, dás-me conversa.
(adivinhas tu o desejo que escondo por detrás da boca que se tenta acalmar em conversas banais quando o que quer mesmo é murmurar-te que me fodas com força?)
Deixa-me ir à vida de todos os dias.
Fala-me do que quiseres mas não me fales com esse corpo que quero apertado contra o meu, em suor e prazer.
Até prefiro que abras a boca e me mostres aquilo que não amo em ti, pode ser que assim esfries a inevitável tesão que sobe por mim acima de cada vez que me cruzo contigo.
Nunca me vais acelerar o coração com paixão, nem me vais fazer cruzar oceanos por amor.
Mas sempre me consegues deixar ébria de vontade de te sentir debaixo de mim, por dentro de mim, de te cavalgar como se não houvesse amanhã.

Só que há.
E, pelo menos por hoje, as pernas ainda me levam, fielmente, para longe.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Depressa, depressa...

As noites já se me consumiam em fantasias, onde eras presença assídua.
Agora, alarvemente, ocupas-me também os dias, essa tua imagem gulosa assaltando-me a paz, de improviso.

Ao telefone desfio-te histórias inventadas de safadezas e cambalhotas, instigando-te o desejo. Como uma chama, sobe-te depressa pelo corpo acima, e a tua voz desfaz-se na urgência rouca de quem me chama até ti.

Louca que sou, vou.

Abres-me a porta a medo, a vergonha do primeiro encontro estampada na cara, o medo de que a mensagem não tivesse ecoado certa dentro de ti, a excitação de sabermos que nada daquilo, nunca, poderá transpirar para fora das paredes do teu quarto.

São segundos apenas de dúvida, que morre quando o teu olhar ansioso se delonga no meu e encontra o eco da paixão tão refreada.

Quando o teu braço me puxa a cintura para a colar à tua e unes a tua língua à minha, e começo a sentir, ardente, a tua erecção entre as minhas pernas.

Encostas-me à parede.

No misto do medo de sermos surpreendidos, a urgência não se disfarça, e é preciso chegar à meta. Tem de ser agora, tem de ser hoje, ou perderemos para sempre a coragem que temporariamente nos bafejou.

Por isso as tuas mãos percorrem-me agitadas, por isso a tua boca me sufoca com beijos, por isso nos despimos apressadamente no teu quarto, por isso me empurras para a cama e roças o teu sexo em mim, e eu molhada que estou suspiro de pura tesão.

O tempo esgotou-se para preliminares escusados, que o desejo é mais do que o corpo aguenta e os segundos para o prazer se esgotam depressa.

Guio-te até mim, como uma ordem, a mão envolta no teu sexo duro, a outra provavelmente enterrando as unhas nas tuas costas que se inclinam para mim, já não sei, não me conheço, perdi-me no gozo de te sentir a penetrar-me, de te saber tão abandonado quanto eu.

As minhas pernas apertam-se à volta desse teu rabo (que tantas vezes olhei de soslaio, o desejo dissimulado) perfeito, puxando-te mais e mais, animando-te a foderes-me com gosto e profundidade.

Os teus olhos não largam os meus e ambos arfamos na doce violência da entrega, mais depressa, e mais depressa, e devagar, e mais depressa, e os espasmos nos sacodem quando o prémio final se aproxima gigante, possante, este orgasmo tão sonhado e que agora se grita na boca e no corpo, e que temos de calar com um beijo final.

E ouvimos a chave na porta - que felizmente trancaste (...que explicação inventarás tu?) - e a voz inquisidora do lado de fora, e a urgência que acabara de nos deixar volta pelo mesmo caminho, risos abafados vestindo-nos à pressa, tu uns boxers e uma t-shirt ali largadas, eu tentando enfiar o vestido que se recusa a passar-me nos ombros, teimoso, não encontro as cuecas depois terás de as procurar, calço as sandálias enquanto gritas "um momento, vou já", páro-te um segundo apenas para deixar o meu rasto de saliva na tua boca e salto pela janela (graças a Deus que vives num rés-do-chão!) enquanto finalmente abres a porta e balbucias uma desculpa que já não ouço.

Foi por pouco, mas como que me viciei na adrenalina de te comer assim, descaradamente à pressa.
E quero mais.

Vou-me rindo pela rua fora, toca o telemóvel e dizes-me, desavergonhado: "quando me vens ver de novo?"...
Parece que também lhe tomaste o gosto.