quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Desencontro

Ela dorme abandonada à luz da Lua, o cabelo espalhado pelo colchão e a pele meio coberta pelo lençól, a brisa quente da noite afagando-lhe o corpo e o saco-cama enrolado nas pernas, como se embalada num sonho de fadas.

Ele olha-a, a avidez negada no aviso do coração que teima em calar.

Ela passa pela manhã com o cheiro de manga no corpo, o cabelo molhado pelas costas, a pele fresca, o riso aberto, grávido de alegria e vida.

Ele olha-a, a avidez negada no aviso do coração que teima em calar.

Ela caminha pela praia desenhando ondas na areia que se espalha pelos pés, os olhos postos no oceano azul de sonhos imensos, o suspiro preso no peito.

Ele olha-a, a avidez negada no aviso do coração que teima em calar.

Ela entrega-se à dança dos sentidos que lhe pedem as notas que a seduzem no ar, o corpo balançado ao ritmo da noite, ancas soltas e braços em arabescos, ela dança a mulher que a habita e lhe pede que se solte.




Ele olha-a, a avidez negada no aviso do coração que teima em calar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Viajo sozinha

Deitada na minha cama, recosto-me nas almofadas e deixo o pensamento, indolente, vaguear por entre as ondas de calor do dia que se colam à pele e me deixam à beira da demência.
A mente leva-me a ti, e imagino-te perto.
Como que por osmose, o ar quente do quarto impregna-me a pele, transpõe a ténue barreira epidérmica e invade-me livremente as células.
A tua imagem incendeia-me os sentidos.
E o já tão familiar aguilhão do desejo percorre-me a bacia, indo deitar-se no monte de prazer de Vénus entre as minhas coxas, que antecipando o momento abriram o portal.
Deslizam-me os dedos pelos seios, desenham estranhas cornucópias no ventre e mergulham enfim, em deleite, na doce humidade que me cobre já a vagina, ao mesmo tempo que da garganta se me escapa um suspiro.
Imagino a tua boca ali, naquele sítio. A língua saboreando-me o clitóris, os lábios beijando-me os meus. Os de baixo. E os teus dedos, num toque de mestre, completando o prato, penetrando-me fundo.
Ai!........
Os meus dedos imitam os gestos que queria teus, sentindo-se teus.
Alterno  o ritmo da penetração, de modo a fazer-me gozar mais e mais. Parando quando me sinto descontrolada, massajando-me mais acima, no lugar que tão bem conheço e que sei ser porta de viagens de prazer mágicas no meu interior.
As pernas tremem-me com força, sinal de que o orgasmo ameaça invadir-me.

Desta vez deixo-o. Deixo-te entrar-me, através de mim.
E quando me surge a imagem das minhas mãos a segurar-te na cabeça e apertando-te contra mim, exigindo-te que me domines, me faças vir na tua boca enxarcada, permito então que o prazer me engula como monstro voraz e faminto, inteira e completamente rendida.

Solta-se-me o grito do teu nome que guardo no peito.
E chamo-te para mim. 

terça-feira, 29 de maio de 2012

Um ser de Nós

O teu sorriso quando desci quebrou-me as defesas, levemente erguidas até àquele momento.
Quero-te. A fêmea em mim, a loba primitiva, a mulher-sexo quer sentir o peso do teu corpo em cima de si, o teu cheiro misturado no seu, a posse dos sentidos celebrada em êxtase.
Subimos de novo, uma desculpa qualquer murmurada entre esses teus lábios que me tentam. Gosto de pensar neles no monte que me sobe do ventre, mordiscando. E a língua descendo pela colina abaixo.
Conversas banais e risos disfarçados enchem a sala. Tento esquecer o cheiro do teu perfume mesmo ao meu lado, tento preencher com serenidade o espaço que ocupaste em mim. Não consigo.
No espaço curto, fugindo-te, embato na mesa com estrondo. Ao virar-me, vejo os teus olhos em mim, divertidos, e um meio sorriso de canto que acompanha a mão que me massaja a perna dorida.
Calor, calor. Pára, por favor.
Mas vejo que estou calada e que continuas a galgar a distância aceitável que nos separa os corpos. Que agora se tornou diminuta e insuportável. E quente. E molhada.
E pressinto, antes de a sentir, a tua boca procurando a minha, no beijo desejado e temido. Gostoso, que a Deusa nos valha! Se assim não fosse ainda teria desculpa para não te enrolar as pernas à volta da cintura e tu para não me levantares em peso até ao sofá, onde finalmente te sinto as mãos apalpando-me e a boca procurando-me os seios.
Que líbido, que loucura! Afinal também morava em ti este desejo?
E eu, que não o queria ver, morro-lhe agora aos pés. Rendida, aberta, alerta, em pura tesão.
Voam apressadamente as roupas para fora dos corpos, não há sequer tempo para um pensamento, os olhos não se descosem mais um do outro.
Guio-te com sabedoria para dentro de mim e penetras-me, com um suspiro de prazer. Começas a dançar as ancas em cima de mim e eu sinto que passei para além do controlo, para além dos limites, para além do que é aceite, para além do que conheço de mim. Sou tu, e tu és eu.
Sou tu, e tu és eu, e ao som dessa melopeia deixas que o teu sémen escorra para dentro do meu ventre, que as nossas bocas se devorem, que o nosso cheiro se misture e a nossa pele deixe de perceber a quem pertence, até que nos fundimos num ser místico, sagrado, um ser de sexo e de orgasmo.
Um ser de nós.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Deus e Deusa

A noite era de Lua abobadada, plantada mágicamente no meio de um céu escuro e fértil.
No grupo sentia-se a energia de Beltane nos corpos dos que dançavam a música, rendidos ao ritmo desejado pela pelvis.
Nos olhares que se cruzavam soltavam-se feras, sopravam-se sonhos, promessas e desejos.

O corpo dela era bailarina movendo-se fundida nas claves de Sol e traços de Fá Menor.
De olhos fechados, entregue ao fogo que lhe queimava o ventre.
Os braços rodopiavam no ar, as ancas traçavam círculos invisíveis no espaço, o cabelo era fera indomada que lhe cobria o rosto.

Assim perdida, deu por si a embater em algo. Abruptamente desperta, abriu os olhos.
Alguém, não algo.
Um par de olhos risonhos e inquisitivos que a miravam.
Uma boca vermelha, de lábios carnudos, que um sorriso de canto encantava.
E, mais abaixo, um corpo masculino, guerreiro, suado, sexual.
E o ventre dela a palpitar.

Sem se aperceberem, começaram lentamente a dançar um para o outro. Olhos nos olhos, numa dança tribal de pura corte. Num ritual antigo, feminino e masculino cortejando-se, saudando os deuses em si.

Obedecendo a um impulso, ele pegou-lhe na mão e correram até ao exterior, onde a Lua gulosa reinava serena e sabedora do seu poder. Naquele momento era como se a sua luz os hipnotizasse e enchesse de magia. Sentiam-se mais que homem e mulher, sentiam-se Deus e Deusa, símbolos de todos os homens e mulheres do mundo.

Subiram o monte de mãos dadas e chegaram ofegantes ao topo, onde só a luz da Lua se via.
Ela deitou-se, o vestido branco beijando a terra, as ervas, os ramos prendendo-se no cabelo.
Ele deitou-se ao lado dela e beijou-a.
Ela abriu-se-lhe, fruta madura e plena.

O desejo consumia-os já, ágil e forte nos seios que subiam e desciam, encorajados pelos dedos dele, no falo hasteado em orgulho, que se enrolava nos dedos dela, no clitóris aumentado e encharcado, onde a língua dele encontrou refúgio.

E a Lua em cima, assistindo deliciada.

Ele colocou-se em cima dela e penetrou-a avidamente, facilmente.
O caminho fazia-se num rio de vontade lânguida.

Ritmicamente, uniram-se os Deuses. Deusa de costas arqueadas, recebendo a caruma fértil, Deus gladiador, sucumbindo ao cheiro da fémea.

No espasmo do orgasmo, os olhos perceberam-se, afinal, homem e mulher, surpreendidos pelo continuar do seu encontro, agora que era apenas mortais.
E ali se forjou afinal uma união inesperada, em noite de Beltane fogo. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

Afrodite

Ele sentiu-lhe o perfume dos cabelos quando ela se inclinou para apanhar algo, e o velho desejo não satisfeito foi como um punhal cravado no corpo.
Instintivamente inclinou-se para ela, que ao subir não pôde evitar o roçar dos lábios um no outro.
Apanhou-a assim, com os braços segurando-lhe as costas, sentindo a pele quente, procurando-lhe a boca agora com maior certeza e pressentindo o desfazer das defesas dela a pouco e pouco.
As línguas tocaram-se, descobrindo um gosto mútuo a café e mentol.
E a vontade crescendo, latindo debaixo da pele.
O escritório ainda vazio, àquela hora da manhã.

As mãos dele procuraram-lhe o seio direito, com uma urgência que ela nunca lhe tinha visto. Por debaixo do vestido leve de Verão palpitava-lhe forte o coração, misto de medo e volúpia.
O corpo dele pressionado contra o dela lembrava-lhe constantemente do quanto ele a queria, ali, agora, naquele momento tão fugaz no tempo (que escasseava, a cada segundo), naquele lugar tão impróprio para luxúrias carnais.

Mas luxúria carnal era tudo o que ela conseguia pensar no momento, e deixava-se ir na fantasia, nas mãos fortes e rugosas, no corpo trabalhado, no sabor a macho no cio que a pele dele desprendia.

Foram-se encaminhando para a mesa grande, sem nunca se largarem.
Ela encostou-se contra o tampo, ele afastou-lhe as cuecas vermelhas com os dedos e tocou-lhe no clitóris molhado, suspirando.
Ela gemeu e começou rapidamente a desapertar-lhe as calças, libertando o sexo másculo, duro e hasteado.
Conduziu-o sem mais demoras para dentro dela, que em breve aquele inócuo lugar de paixão estaria vibrante de outras vidas atarefadas.

Foi como o ceder de uma ponte durante um terramoto.
A urgência alimentou-os como uma fogueira de consumo rápido, e entregaram-se sabendo que o tempo os atraiçoava deveras.
Mas nem o sentir de barulho vindo do andar de cima os impediu de gozar um orgasmo mútuo tirado às pressas e com vontade, numa cumplicidade não estudada mas que saiu perfeita, assim, cozinhada em lume forte e rápido.

Sacudiram o cheiro um do outro e recompuseram-se mesmo a tempo do "Bom dia" do colega que espreitava, inocente, do topo das escadas.

Depois daquele dia ela não conseguia evitar um sorriso interno de cada vez que tocava na mesa no preciso lugar em que ele a havia possuído e feito sentir fêmea, desejada, poderosa, Afrodite.