quinta-feira, 10 de maio de 2012

Deus e Deusa

A noite era de Lua abobadada, plantada mágicamente no meio de um céu escuro e fértil.
No grupo sentia-se a energia de Beltane nos corpos dos que dançavam a música, rendidos ao ritmo desejado pela pelvis.
Nos olhares que se cruzavam soltavam-se feras, sopravam-se sonhos, promessas e desejos.

O corpo dela era bailarina movendo-se fundida nas claves de Sol e traços de Fá Menor.
De olhos fechados, entregue ao fogo que lhe queimava o ventre.
Os braços rodopiavam no ar, as ancas traçavam círculos invisíveis no espaço, o cabelo era fera indomada que lhe cobria o rosto.

Assim perdida, deu por si a embater em algo. Abruptamente desperta, abriu os olhos.
Alguém, não algo.
Um par de olhos risonhos e inquisitivos que a miravam.
Uma boca vermelha, de lábios carnudos, que um sorriso de canto encantava.
E, mais abaixo, um corpo masculino, guerreiro, suado, sexual.
E o ventre dela a palpitar.

Sem se aperceberem, começaram lentamente a dançar um para o outro. Olhos nos olhos, numa dança tribal de pura corte. Num ritual antigo, feminino e masculino cortejando-se, saudando os deuses em si.

Obedecendo a um impulso, ele pegou-lhe na mão e correram até ao exterior, onde a Lua gulosa reinava serena e sabedora do seu poder. Naquele momento era como se a sua luz os hipnotizasse e enchesse de magia. Sentiam-se mais que homem e mulher, sentiam-se Deus e Deusa, símbolos de todos os homens e mulheres do mundo.

Subiram o monte de mãos dadas e chegaram ofegantes ao topo, onde só a luz da Lua se via.
Ela deitou-se, o vestido branco beijando a terra, as ervas, os ramos prendendo-se no cabelo.
Ele deitou-se ao lado dela e beijou-a.
Ela abriu-se-lhe, fruta madura e plena.

O desejo consumia-os já, ágil e forte nos seios que subiam e desciam, encorajados pelos dedos dele, no falo hasteado em orgulho, que se enrolava nos dedos dela, no clitóris aumentado e encharcado, onde a língua dele encontrou refúgio.

E a Lua em cima, assistindo deliciada.

Ele colocou-se em cima dela e penetrou-a avidamente, facilmente.
O caminho fazia-se num rio de vontade lânguida.

Ritmicamente, uniram-se os Deuses. Deusa de costas arqueadas, recebendo a caruma fértil, Deus gladiador, sucumbindo ao cheiro da fémea.

No espasmo do orgasmo, os olhos perceberam-se, afinal, homem e mulher, surpreendidos pelo continuar do seu encontro, agora que era apenas mortais.
E ali se forjou afinal uma união inesperada, em noite de Beltane fogo. 

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