terça-feira, 29 de maio de 2012

Um ser de Nós

O teu sorriso quando desci quebrou-me as defesas, levemente erguidas até àquele momento.
Quero-te. A fêmea em mim, a loba primitiva, a mulher-sexo quer sentir o peso do teu corpo em cima de si, o teu cheiro misturado no seu, a posse dos sentidos celebrada em êxtase.
Subimos de novo, uma desculpa qualquer murmurada entre esses teus lábios que me tentam. Gosto de pensar neles no monte que me sobe do ventre, mordiscando. E a língua descendo pela colina abaixo.
Conversas banais e risos disfarçados enchem a sala. Tento esquecer o cheiro do teu perfume mesmo ao meu lado, tento preencher com serenidade o espaço que ocupaste em mim. Não consigo.
No espaço curto, fugindo-te, embato na mesa com estrondo. Ao virar-me, vejo os teus olhos em mim, divertidos, e um meio sorriso de canto que acompanha a mão que me massaja a perna dorida.
Calor, calor. Pára, por favor.
Mas vejo que estou calada e que continuas a galgar a distância aceitável que nos separa os corpos. Que agora se tornou diminuta e insuportável. E quente. E molhada.
E pressinto, antes de a sentir, a tua boca procurando a minha, no beijo desejado e temido. Gostoso, que a Deusa nos valha! Se assim não fosse ainda teria desculpa para não te enrolar as pernas à volta da cintura e tu para não me levantares em peso até ao sofá, onde finalmente te sinto as mãos apalpando-me e a boca procurando-me os seios.
Que líbido, que loucura! Afinal também morava em ti este desejo?
E eu, que não o queria ver, morro-lhe agora aos pés. Rendida, aberta, alerta, em pura tesão.
Voam apressadamente as roupas para fora dos corpos, não há sequer tempo para um pensamento, os olhos não se descosem mais um do outro.
Guio-te com sabedoria para dentro de mim e penetras-me, com um suspiro de prazer. Começas a dançar as ancas em cima de mim e eu sinto que passei para além do controlo, para além dos limites, para além do que é aceite, para além do que conheço de mim. Sou tu, e tu és eu.
Sou tu, e tu és eu, e ao som dessa melopeia deixas que o teu sémen escorra para dentro do meu ventre, que as nossas bocas se devorem, que o nosso cheiro se misture e a nossa pele deixe de perceber a quem pertence, até que nos fundimos num ser místico, sagrado, um ser de sexo e de orgasmo.
Um ser de nós.

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